A ilha do Porto Santo emergiu há 14 milhões de anos no Oceano Atlântico, sendo geologicamente das mais antigas ilhas dos arquipélagos portugueses. Foi também a primeira a ser descoberta por Zarco em 1418. O Arquipélago da Madeira está a 1.000 km a sudoeste de Portugal Continental, na mesma latitude que Casablanca.
Com o clima temperado e oceânico, Porto Santo é a ilha mais árida de Portugal, chovendo tão pouco como no interior sul de Portugal Continental (Alentejo). A temperatura média também é mais elevada, comparando-se ao Funchal (não à média de toda a ilha da Madeira) e às ilhas Canárias. Estas diferenças em relação às restantes ilhas portuguesas devem-se à inexistência de um pico ou montanha de altitude considerável. Considerando o Pico e a Madeira, ambos têm elevações com altitude máxima de 2351m e 1861m, que levam à formação de nuvens e consequente aumento da precipitação.
A ilha do Porto Santo também tem solos muito diferentes do Pico e da Madeira. Comparando com as restantes ilhas portuguesas, Porto Santo tem quase o dobro da idade de Santa Maria, a 2ª mais velha com 8 milhões de anos. Se o Pico, a ilha mais nova, tem solos pedregosos, “rocha-mãe”, em Porto Santo os sedimentos sofreram meteorização, tornando os solos arenitos. A formação do Porto Santo ocorreu do depósito de sedimentos e fragmentos calcários de origem marinha (algas, conchas, ossos, …). Curiosamente, que outros solos calcários de origem marinha já são famosos na produção de vinhos de excelência? Borgonha, Champagne e Jerez. António Maçanita não podia deixar passar a oportunidade de explorar este potencial.
Os antigos contam que era no Porto Santo onde se vinham buscar as uvas mais maduras para fazer o vinho que fez famosas estas ilhas. Hoje restam menos de 14 hectares, cultivados por um punhado de resistentes. Na ilha vizinha chamam "Profetas" aos porto-santenses, alcunha antiga que nunca fez tanto sentido quando vemos estas vinhas velhas.
Pratica-se uma viticultura de condução rasteira, protegidas dos ventos e maresia por muros de crochet ou habilidosas estruturas de canas. Ou seja, muros de pedras tal como a viticultura nos Açores (sendo que no Porto Santo as pedras são claras e nos Açores escuras), Canárias e Santorini; enquanto que os caniçais são semelhantes aos de Colares. Usam-se pequenas estacas para levantar os ramos e evitar que os cachos toquem no solo, uma vez que as areias quentes iriam cozer as uvas.
As castas tradicionais da ilha do Porto Santo também são únicas e diferentes das restantes ilhas portuguesas: o Listrão, conhecido no continente como Malvasia Rei, nas ilhas Canárias como Listan Blanco e em Jerez como Palomino Fino, já provou a sua polivalência nestas regiões criando vinhos de excelência: dos reconhecidos brancos das Canárias aos sherry de Jerez.
A casta Caracol ainda de origem incerta, mas já conta com várias estórias e teorias sobre a origem do seu nome. Geneticamente, sabemos que é parente próximo da casta Listrão, sendo seu parente ou descendente.
A área total da região vitícola da Ilha da Madeira é de cerca de 500 hectares. É uma paisagem única e caracteriza-se pelos solos de origem vulcânica, na sua maioria basálticos, e a proximidade ao mar. O terreno tem declives muito acentuados, vencidos por socalcos.
O sistema de condução mais tradicional é o da “latada” (pérgola), no qual as vinhas são conduzidas horizontalmente.
A casta Caracol é uma da casta tradicional da ilha do Porto Santo. Existem várias estórias e mitos sobre a sua potencial origem, como a de ter sido um tal Sr. Caracol que a terá trazido e plantado. A curiosidade insaciável de António Maçanita levou-o a analisar os microssatélites, que demonstram a sua enorme proximidade genética com o Listrão, diferido apenas 1 no total de 20, podendo ter o mesmo progenitor ou serem progenitores uma da outra. Sobre o nome, também a pesquisa na bibliografia antiga pode residir a razão do nome Caracol. Gaspar Frutuoso, em 1580, afirmava: “Há muitas vinhas, que dão boas uvas; criam-se nelas muitos caracóis brancos, em tanta maneira, que, em partes, cobrem tanto o cacho das uvas, que lhe não aparece bago”.
A casta Listrão é uma variedade de uva que é cultivada na ilha da Madeira, como também nas Canárias, em Jerez, e em Portugal Continental. Acredita-se que a casta Listrão tenha sido introduzida na ilha da Madeira por volta do século XV, pelos navegadores portugueses que retornavam das suas viagens ao Continente Africano.
A casta Tinta Negra é uma uva tinta muito versátil e resistente, amplamente cultivada na Ilha da Madeira. Ela é originária da Península Ibérica e foi trazida para a Madeira no século XVIII, onde tornou-se a casta mais plantada da ilha. O clima da Ilha da Madeira é quente e húmido, com verões quentes e secos, e invernos amenos e chuvosos. A casta Tinta Negra adapta-se muito bem a este clima, pois é resistente a doenças e possui uma boa capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas. Gosta de estar “à beira-mar” e nos Açores é conhecida por Saborinho e Molar em Colares, Sintra.