O papel da viticultura é entender e interagir com as diversas variáveis e influências interligadas de solo, luz solar, água, temperatura, variedades e as respostas diárias da videira, crescendo os seus frutos, folhas e raízes. O trabalho de quem gere a viticultura é aplicar com sabedoria todas as ferramentas disponíveis, para influenciar favoravelmente os processos que criem uvas de alta qualidade para vinho. Uma vez tomada a decisão de vindimar, o processo de criação termina e o processo de transformação e conservação começa.
Um viticultor é um técnico que tem como objetivo a manutenção e gestão da vinha com o intuito de produção de uvas brancas ou tintas.
Embora a viticultura sustentável seja uma disciplina científica dominada por números, um bom viticultor ou produtor, tem que ser muito mais do que apenas um técnico, realizando uma sequência anual pré-programada de operações na vinha.
Os sistemas naturais são demasiado complexos e imprevisíveis para tal abordagem.
Tal como na medicina, a viticultura com uma abordagem puramente científica que não deixa espaço para sentimentos não é desejável. É necessário um bom viticultor/produtor, com sentimento para com a terra e as plantas, uma viticultura onde há lugar para intuição e inspiração. O vinho Palpite ganhou esse nome em reconhecimento dos muitos resultados positivos que ocorreram por seguirmos um palpite.
As uvas da Fitapreta são provenientes de várias origens. As uvas compradas pela Fitapreta são de vinhas cuidadosamente selecionadas, uvas premium, propriedade de bons produtores de uva de toda a região do Alentejo, sendo geridas pela equipa de viticultura da Fitapreta. A Fitapreta também adquiriu uma propriedade de 20 hectares de uma vinha velha com cerca de 50 anos uvas de todas as variedades, que a representam o encepamento tipicamente Alentejano.
As uvas da vindima de 2020 já são fruto das vinhas novas plantadas na propriedade da Fitapreta na Graça do Divor, perto de Évora. As uvas plantadas foram das seguintes variedades: Arinto, Perrum, Folgazão, Baga, Tinta Miúda, Tinta Grossa, Aragonês, Alicante Bouchet, Touriga Nacional e 6 hectares de “bravo” para mais tarde enxertar com algumas castas locais.
A região do Alentejo tem muitos bons vinhedos localizados em solos rasos, com défice de água e stress hídrico, nas encostas pedregosas que restringem o vigor. A falta de água e consequente stress hídrico moderado no início de Julho provoca uma interrupção no crescimento vegetativo e a videira é capaz de concentrar a sua energia na fruta.
A monitorização do crescimento dos rebentos e o mapeamento de lignificação do caule em relação ao início do amadurecimento, dão-nos as primeiras indicações de zonas de vinha e também o potencial de produzir uvas de qualidade superior.
Estes excelentes solos muitas vezes requerem uma criteriosa irrigação suplementar, água, para manter as vinhas em funcionamento durante um verão longo e seco. Apesar de algumas opiniões contrárias, se usada corretamente apenas em quantidades de défice, a água é uma grande ferramenta para melhorar a qualidade das uvas e consequente melhoria do vinho.
Para a Fitapreta faz todo o sentido. Uma uva que está desidratada, com falta de água, pode ser rica em açúcar, mas ainda está por amadurecer. Os nutrientes também são geridos de forma a estarem apenas disponíveis em quantidades de défice, de modo a que a copa permaneça sem folhas e o desenvolvimento do fruto ocorra com sombreamento mínimo.
Qualquer que seja a variedade, é vital ler corretamente os sinais de vindima e monitorizar o desenvolvimento dos taninos por meio de métodos de laboratório. Muitas vezes, isso requer uma espera até que haja sementes castanhas e caules totalmente lenhificados.
No Alentejo, os açúcares são elevados e a acidez começa a descer quando ocorre o ponto ideal de maturação, a data de vindima pode ser confusa pois a maturação alcoólica ocorre, geralmente, antes da maturação fenólica. A “zonagem” que se diz o “novo conceito de terroir” é feita através de fotografias aéreas de infravermelhos que permitem identificar as melhores zonas dentro de vinhedos grandes, e também a forma de separar as parcelas para diferentes datas de vindima.
Essas zonas, quando inspecionadas no terreno terão copas abertas e saudáveis, sem sombreamento entre as folhas e sombreamento limitado de cachos. Estas qualidades são essenciais para o crescimento do fruto com ótima cor, pH e uma ausência a aromas verdes e a definição de uma data de vindima correta para cada casta ou parcela de vinha.
Bons conhecimentos científicos de pragas e doenças da videira permitem-nos cultivar com pulverização mínima, em taxas que são muito inferiores às praticadas no mundo. O baixo índice pluviométrico e as altas temperaturas na fase de crescimento da vinha ajudam a reduzir a pressão da doença.
O oídio é o principal problema, que dificulta uma pulverização mínima, esta doença é normalmente tratada no início da temporada, com recurso a enxofre natural, e posteriormente outros produtos de baixo impacto.
Na vinha, estamos muito conscientes de que os vinhos podem ser deixados em contacto com a pele por períodos até 30 dias pós-vindima.
A pulverização mínima, produz uvas que estão livres de doenças e resíduos, ambos fundamentais para a qualidade do vinho. As vinhas não são certificadas como orgânicas, mas são cultivadas usando práticas “emprestadas” da viticultura biológica onde a pulverização é mínima.