A Fitapreta é o mais recente certificado pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo. Tem a vinha em sequeiro e no meio da agrofloresta. Água, só gasta a que for estritamente necessária.
Ana Isabel Pereira (texto) e Matilde Fieschi (fotografia)
"Só quando a terra batida se aproxima do bonito palácio do século XIV, que António Maçanita e Sandra Sárria reabilitaram em 2017, é que vemos as videiras, integradas numa paisagem onde há muitas árvores e arbustos, os amontoados de pedra típicos do Alentejo... É isto a agro-floresta, um sistema hoje tido como receita para a sobrevivência da agricultura, por potenciar a resiliência das culturas, nomeadamente a da vinha."
- Ana Isabel Pereira
"(...) tem cerca de 70 ovelhas que dão conta das ervas na vinha — enrelvamentos semeados e espontâneos ajudam os solos a absorver a água e a manter a humidade e preparam-nos para anos climáticos adversos (...); cultiva em 6 hectares de bravos com o objectivo de criar os porta-enxertos mais adequados àquele terroir; faz ensaios de corte de coberto vegetal, nomeadamente de um tipo em que se promove o mulching (cobertura morta); tem desde 2023 uma garrafa mais leve (400 gramas); e, na gestão de resíduos, devolve embalagens aos fornecedores e, para a expedição, opta por caixas de cartão mais 'despidas'."
"O produtor escolheu sobretudo castas autóctones, mais resilientes ao calor e à secura — algumas do encepamento antigo do Alentejo (...), e plantou-as (em 2017, 2019 e 2020) em regime de sequeiro. E isso apesar de haver água na herdade. "As plantas estão habituadas ao stress. Na altura, tivemos uma taxa muito grande de insucesso e toda a gente nos chamou malucos", conta Sandra Sárria."
"O projecto Fitapreta conta agora duas décadas. Começou em 2004 com António Maçanita e o especialista em viticultura David Booth, que viria a falecer em 2012. Sandra Sárria fazia parte da equipa desde 2008 e em 2015 Maçanita convidou-a para ser sua sócia."
"No edifício moderno, do arquitecto Tiago Sobral, "a intenção foi escolher materiais que fossem sustentáveis", explica Sandra Sárria, junto à construção semi-enterrada, toda revestida a cortiça — "faz um óptimo isolamento" — e com mais de 40 clarabóias. Já as paredes grossas do edifício histórico, onde recentemente foi descoberto um lagar do século XV, permitem poupar na refrigeração: nas vindimas trabalham 24 horas por dia e, à noite, promovem o free cooling (abrem portas e janelas e deixam a noite arrefecer a adega)."
"No total, a Fitapreta explora cerca de 100 hectares de vinha: 36 no Paço do Morgado de Oliveira, mais 33 no Redondo (vinhas com 54 anos, de onde saíram varas para replicar no Paço esse "Alentejo antigo, em que ainda não existia Aragonês ou Alicante Bouschet") (...)"
"Mas Leonor Frazão diz: "aqui, na verdade, nós somos abençoados, no sentido em que isto é mesmo fora de série. O que a técnica quer dizer é que, quando pegaram na propriedade, "tudo aquilo de que hoje se fala em sustentabilidade", dos abrigos para os animais às galerias ripícolas, passando pela flora que atrai insectos auxiliares, já ali existia. "Isto já estava por si só regenerado quando plantámos as vinhas e aquilo que queremos é não estragar."