A ilha do Pico é, geologicamente, a ilha mais nova do arquipélago dos Açores, sendo a sua formação há cerca 270.000 anos, uma jovem, quando comparada com a ilha de São Miguel que tem mais de 5 milhões de anos. Esta jovem idade geológica conjugada com erupções e escoadas lávicas recentes, sendo a última erupção em 1718, faz com que seja uma ilha marcada pela presença da pedra pois a rocha mãe basáltica não teve o tempo de se degradar e criar solo.
No solo lagido vulcânico com mais de 1500-2000 anos, do lado da encosta Noroeste da Ilha do Pico, encontram-se vinhas com 60 a 120 anos, a cerca de 80 a 580 metros do Atlântico. Apesar das condições estremas do solo, Criação Velha e Santa Luzia são exemplos maiores da arte de parcelar a terra, os tradicionais Currais, a que correspondem centenas de quilómetros de muros de pedra arduamente erguidos, um testemunho de natureza lávica e práticas culturais ancestrais.
As vinhas, guardiãs do encepamento ancestral do Pico, estão divididas em pequenas parcelas de 0,89 hectares, 0,6ha e 1,4ha. Os vinhos, produzidos em pequenas quantidades, "nascidos e criados" em plena Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, representam o mais puro e autêntico terroir do Pico.
Nesta ilha, há mais de 500 anos que se plantam vinhas nas fendas da rocha vulcânica, a escassos 50 metros do mar, onde se ouve o “cantar do caranguejo”. Após o devastador ataque da filoxera e oídio no séc. XIX, a mão teimosa do Picaroto manteve uma pequena bolsa de vinhas que resistiu à extinção.
Este Vinha Centenária é de uma dessas vinhas com mais de 100 anos que resistiu e ficou guardiã das castas exclusivas dos Açores e testemunha do encepamento tradicional.
Em 1465, a chegada dos Utras, deturpação do nome de Joss Hurtere, um flamengo que foi Capitão Donatário do Pico e do Fayal, foi determinante para o desenvolvimento do vinho e da vinha nestas ilhas.
A nós foi-nos passado o testemunho de uma dessas vinhas ainda na descendência dos Utras, uma pequena parcela na Criação Velha que encosta ao mar, nos “1ºs Jeirões”, num local onde se consegue a maior exposição solar e concentração, a vinha dos Utras.
Foi ainda Joss Hurtere, Capitão Donatário do Pico e do Fayal, que convidou Joss Van Aard para os Açores. Os Aards, tradução portuguesa “da Terra”, tornaram-se um dos proprietários de vinhas mais importantes da ilha, com algumas das melhores parcelas nos 1ºs Jeirões.
Esta é uma dessas parcelas, a vinha dos Aards, na primeira linha do mar, que foi vendida pela família em 1923, replantada pelos Cardozos em 1924 e que passa hoje para as nossas mãos.