Foi em 2010 que António Maçanita se lançou na busca de um Alentejo mais profundo, enterrado nos escritos e na memória coletiva. Hoje os vinhos de Talha do Alentejo são uma categoria de vinhos, uma forma de fazer regulamentada pela Comissão do Alentejo, mas nem sempre foi assim.
Antes desta "revolução" havia apenas 1 produtor a engarrafar Brancos de Talha sendo o nosso Branco de Talha o único vinho do Alentejo que pode utilizar a palavra "talha" e não vinificar com curtimenta, mas sim, em bica aberta.
Qual a forma original da produção de vinhos de Talha? A Talha, símbolo das antigas práticas de vinificação alentejanas, é um dos últimos vestígios da influência Romana na história milenar dos vinhos alentejanos. Então, vamos tentar descobrir como se fazia o vinho "à Romana" na Península.
Podemos ir buscar esta informação a fontes escritas, que não são muitas, mas por exemplo Columela, historiador Romano nascido em Cádiz no ano 70 D.C., parece indicar que o processo não é mais do que espremer as uvas, sendo portanto uma "bica aberta", não mencionado qualquer tipo de maceração. Também outra fonte é a Arqueologia, em que o exemplo melhor preservado são as ruínas de São Cucufate, que parecem também apontar para uma vinificação "moderna" em que existe uma sala de desengace (onde forma encontrados restos de engaço), uma sala de esmagamento (onde foram encontrados restos de graínhas) e as Talhas, chamadas Doliea, são enterradas de forma a manter o mosto frio. Procurando mais provas arqueológicas, existem muitos exemplos espalhados pelo país que reforçam a ideia de que o processo não era mais do que tirar o sumo das películas e fermentar, portanto a bica aberta parece ser a forma dominante da vinificação ancestral.
No entanto, se ditarmos o produtor local, que continuou a fazer vinho no Alentejo, a forma de fazer é um branco em que, tanto o sumo como as películas, fermentam juntas como um tinto. Quem tem razão?
Para esclarecer, existe alguma documentação disponível, no final do século XIX num relatório formulado por Ferreira Lata que parece indicar que as adegas estão a começar a ficar desequipadas não tendo muitas delas já lagar, pois ocupa muito espaço nas casas das pessoas, vindo a ser substituído pela ripadeira que permitia não esmagar mas colocar os bagos directamente na Talha, em vez de os esmagar no lagar e retirar o sumo para dentro da talha. O que sabemos é que na memória coletiva, ou tradição, como preferimos chamar, ficou esta forma de fazer de curtimenta.
Se formos por uma questão mais original seria bica aberta, no entanto, ambas são Cultura e ambas devem ser respeitadas.
A Talha deve servir como uma ferramenta como aumentar o sentido de sitio e não mascará-lo, ou seja, vinificar um Talha deve de certa forma celebrar os solos do Alentejo, as castas antigas, as suas posições e devemos sentir isso num copo de vinho, em conjunto com o aroma da Talha, um pouco como cozinhar num forno a lenha, não deverá isso sobrepor-se ao ingrediente base.
As curtimenta atribuiu um carácter distintivo aos vinhos muito marcados mais pela forma de fazer do que pelo seu sítio de origem, aproximando os vinhos do Alentejo a outros vinhos do género de outras regiões do mundo.