Na busca incessante pelo Alentejo esquecido e castas perdidas, na vinha Chão dos Eremitas, plantada em 1970, há uma presença clara de Alicante Branco, Trincadeira-das-Pratas e Tinta Carvalha. Estas castas foram desaparecendo por terem pouca cor e baixa graduação alcoólica, que tanta falta faz a um Alentejo cada vez mais quente.
A recuperação dos tesouros guardados pelas vinhas velhas, garantem que um dia, essas mesmas castas possam existir e, então regressar ao seu lugar merecido no blend das grandes castas alentejanas.
A vegetação verde e sempre a crescer fazem crer que esta imagem poderá não fazer parte do Alentejo! É notório que estamos num local verdadeiramente especial e diferente: de solos graníticos, na base sul da Serra d’Ossa recebe as águas das chuvas através de 2 riachos que cortam a vinha Chão dos Eremitas, permitindo que o nível freático nunca vá abaixo dos 5 metros, quando o normal na região é furar mais de 100 metros para encontrar água. Os livros mostram que nestes locais onde se plantava a vinha no Alentejo, alguns dos mais emblemáticos vinhos, têm nome de Ribeiro ou estão próximo de um, deixando os outros terrenos, para Terras de Pão, leia-se cereais, pois o ciclo do cereais, está acertado com o das chuvas.
Era aqui que antigamente se plantava a vinha, o local era conhecido como o Chão dos Eremitas, “Chão“ termo antigo para zona plana, e dos “Eremitas” referente aos monges Eremitas da ordem de São Paulo. Aqui existem provas da produção ininterrupta de vinho desde o séc. XIV, a vinha teve tal importância que uma Bula Papal em 1397 isenta os “Pauperes Eremitas” de pagar tributos nas suas vinhas. Mas a arqueologia vai mais longe, pois a descoberta da única ânfora de vinho fenícia do interior do País, que data do séc. VIII a.C, liga este local ao vinho cerca de 900 anos antes da chegada dos Romanos, no que são 3 000 anos de história ligados ao vinho.
É verdadeiramente um privilégio poder provar a visão da época!
Trabalhar uma vinha velha é poder pegar no livro antigo de receitas da avó e resgatar todos os sabores nostálgicos e aromas perdidos para o presente. Esse resgate traz leituras diferentes de terroir e a magia de decifrar o que alguém pensou fazer ou quis construir com as castas que lá plantou.
O Chão dos Eremitas permite trabalhar castas quase extintas do encepamento Alentejano. As castas presentes no Chão dos Eremitas estão verdadeiramente interligadas, por exemplo, a Tinta Carvalha, sendo uma casta do antigo encepamento do Alentejo, é 1/2 irmã do Castelão e do Moreto e filha do cruzamento das castas Sarigo e Alfrocheiro Preto. Todas presentes no encepamento do Chão dos Eremitas.