O Terrantez do Pico é uma das três castas autóctones exclusivas dos Açores, juntamente com o Verdelho e o Arinto dos Açores. Os vinhos são frescos, minerais, com notas salgadas, só comparáveis a um Alvarinho ou a um Riesling salino.
Este vinho mostra o potencial desta casta única neste terroir vulcânico "extremo", resultando num vinho puro, mineral e salino... com a esperança de inspirar outros a preservar a sua existência. Um terroir verdadeiramente único no mundo, situado no meio do Oceano Atlântico, na base da montanha vulcânica do Pico. As vinhas são plantadas nas fendas das rochas, junto ao mar, onde se ouve o "canto do caranguejo", pois é a zona com mais sol e calor. A proximidade, por vezes de apenas alguns metros, obriga à proteção das vinhas com muros (cercas de pedra) contra os ventos fortes e salgados do Atlântico.
As uvas são colhidas manualmente e seleccionadas em cestos de 20 kg, na sua maioria provenientes da Ilha do Pico e uma pequena percentagem de São Miguel. São submetidas a uma prensagem de cachos inteiros, seguida de trasfega após 12 horas. As primeiras prensagens fermentam em cubas de inox com controlo de temperatura para preservar a pureza da uva, enquanto as restantes prensagens fermentam em barricas de terceiro ano (30%) e estagiam 10 meses sobre borras finas.
Este vinho apresenta uma cor amarela citrina brilhante, com um nariz floral intenso com notas de chá, bergamota e iodo. O ataque é rico e encorpado, com notas de iodo e sal.
Voltamos a 2008, quando, a convite de Filipe Rocha, António Maçanita ruma a São Miguel para dar formação na Escola de Formação Turística e Hoteleira de Ponta Delgada. Este tempo dedicado à escola permitiu a António gravitar com calma pelos Açores. Esta proximidade permitiu-lhe descobrir uma casta autóctone que não conhecia por estar praticamente erradicada, a Terrantez do Pico. Tratava-se de uma casta com apenas 89 plantas na região do Pico, e sem registo de existir nos atuais vinhos dos Açores. Segundo Susana Mestre, a responsável à data pelo terreno onde os Serviços Agrícolas de São Miguel estavam a testar a Terrantez do Pico, esta “era uma casta com a qual não se consegue fazer grande vinho e por isso é que quase desapareceu”.
Os vinhos dos Açores já não contavam com esta casta e, para António, soou a desafio. António Maçanita propôs então aos Serviços Agrícolas desenvolver a casta Terrantez do Pico em troca de poder comercializar 80% da produção. O primeiro Terrantez do Pico de António Maçanita, foi feito em 2010, numa adega com menos de 50 m2, poucas cubas de aço inoxidável, uma prensa de madeira, uma boa limpeza nas máquinas cheias de sujidade e muitos improvisos.
As castas indígenas dos Açores
O mote para revitalizar os vinhos Açorianos e as suas castas autóctones foi lançado com a recuperação da casta Terrantez do Pico.
Entre 2013 e 2018, em conjunto com a BioCant foi realizado um estudo genético nos Açocres para determinar a origem da Verdelho, uma vez que os Açores acumulam em conjunto, ter a citação mais antiga, duzentos anos antes da Madeira e ter dois descendentes nas ilhas.
Verdelho
Todo o trabalho desenvolvido tornou a dar frutos, quando a convite da Associação Adeliaçor e da Escola de Hotelaria para um Workshop de Marketing desaguou na preparação de um documento - Estratégia para o Reposicionamento dos Vinhos dos Açores - que incluía uma componente histórica, uma parte genética que reclamava a Verdelho como a casta original, mãe da Arinto dos Açores e Terrantez do Pico.
A Verdelho das Ilhas é a única casta tradicional dos Açores que mantém a designação entre as ilhas do Pico, Terceira e Graciosa. Este facto é coerente com a história da casta no arquipélago, pois, como se depreende das citações sobre a origem da vinha na região, é considerada a mais antiga e mais típica do encepamento.
É igual à Verdelho cultivada na Madeira e na Austrália, para onde foi levada da ilha da Madeira, por volta de 1824. No entanto, os perfis de microssatélites comprovam cientificamente que é uma casta diferente da Verdecchio italiana, da Verdejo espanhola e da Gouveio portuguesa, que no continente também é designada de Verdelho.
Arinto dos Açores
A Arinto dos Açores é a casta mais importante do arquipélago. É uma casta autóctone e única no mundo, desconhecendo-se a sua origem, no entanto, recentes estudos apontam para que seja descendente da casta Verdelho e irmã da Terrantez do Pico.
O Arinto dos Açores é, das três castas tradicionais cultivadas no Pico, a mais resistente às intempéries, evidenciando maior capacidade de produção aliada a uma qualidade enológica semelhante ou até superior à da Verdelho.